Aumento de depressão e ansiedade no pós pandêmia
- Thaís Souza
- 16 de set. de 2024
- 3 min de leitura

O aumento de casos de depressão e ansiedade no período pós-pandemia de COVID-19 pode ser compreendido de diferentes maneiras. A abordagem fenomenológica-existencial, particularmente influenciada pelos pensamentos de filósofos como Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre e Viktor Frankl, oferece uma perspectiva rica sobre esse fenômeno.
1. Vivência do Ser e da Finitude
A pandemia trouxe a morte e a doença para o centro da experiência cotidiana, levando muitos a confrontarem de maneira abrupta a sua finitude. Na visão de Heidegger, a consciência da própria mortalidade pode gerar angústia, mas também oferece uma oportunidade de viver de maneira mais autêntica. No entanto, para muitos, o choque da pandemia pode ter resultado numa dificuldade de lidar com essa finitude de maneira saudável, gerando crises existenciais profundas.
2. Angústia Existencial e Liberdade
A noção de liberdade, essencial para o pensamento existencialista de Sartre, pode ser relacionada ao sentimento de impotência e falta de controle experimentado durante a pandemia. A quarentena, o distanciamento social e o isolamento forçado confrontaram os indivíduos com uma perda de escolhas e de possibilidades, o que pode ter exacerbado sentimentos de angústia. A liberdade, segundo Sartre, implica também em responsabilidade, o que pode ter gerado um aumento da ansiedade diante de um futuro incerto e imprevisível.
3. Perda de Sentido
Viktor Frankl, em sua obra "Em Busca de Sentido", destaca a importância do sentido para a saúde mental. Durante a pandemia, muitos perderam empregos, relações sociais e rotinas que lhes davam propósito, o que pode ter levado a uma sensação de vazio existencial. O "vazio existencial" descrito por Frankl pode se manifestar através de depressão e ansiedade, na medida em que o indivíduo se vê desconectado de propósitos claros em um mundo em transformação.
4. O Corpo e a Experiência do Mundo
Para a fenomenologia, o corpo é o meio através do qual o ser-no-mundo é experienciado. A pandemia trouxe novas formas de experienciar o corpo, seja através do medo da contaminação, do distanciamento físico ou do isolamento. Isso alterou a forma como nos relacionamos com o mundo e com os outros, gerando um estranhamento que pode contribuir para sentimentos de alienação, ansiedade e depressão.
5. Relações com o Outro e o Sentido de Comunidade
A visão fenomenológica-existencial também aborda a relação com o outro como essencial para a construção do ser. O isolamento social e o medo de contato afetaram diretamente essas relações, levando a uma sensação de desconexão e solidão. A falta de interação social, o distanciamento afetivo e as dificuldades de comunicação virtual podem ter contribuído para um aumento de sintomas depressivos e ansiosos.
6. Enfrentamento da Crise e Ressignificação
Embora a pandemia tenha trazido sofrimento, a perspectiva fenomenológica-existencial também aponta para a possibilidade de ressignificação das experiências. A crise pode ser vista como um momento de abertura para novas formas de existência e para uma revisão dos valores e das prioridades. Viktor Frankl sugeriria que o enfrentamento dessa crise pode oferecer uma oportunidade de encontrar um novo sentido para a vida, o que pode ser crucial na recuperação emocional.
Considerações Finais
Na visão fenomenológica-existencial, a ansiedade e a depressão no contexto pós-pandemia podem ser vistas como respostas a questões fundamentais da existência, como a liberdade, a finitude, o sentido da vida e as relações com os outros. O aumento desses quadros psicológicos sugere uma crise de sentido e de ser-no-mundo, acentuada pelas condições impostas pela pandemia. Dessa forma, o tratamento desses transtornos pode passar por uma abordagem que considere não apenas os sintomas, mas também a busca por ressignificação e autenticidade.
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